a infinita ausência

Wednesday, January 19, 2005

19 de Janeiro de 2005

Querida Teresa:

Liguei-te há sensivelmente três horas atrás, não sei o que me deu, peguei no telemóvel, cliquei no teu nome intocável e deixei o som soar na escuridão opaca do meu quarto até ouvir uma voz familiar, tão doce que me deixou imóvel, taciturna, embaraçada. Eras tu, há quanto tempo não te oiço, não sei de ti, quase te esqueci. Mentira, posso me esquecer que existo, das responsabilidades sociais, dos aniversários, dos nºs dos amigos, a data ou o dia da semana mas nunca de ti. Perguntaste-me logo: que se passa contigo? É perfeitamente normal essa questão, afinal de contas são 730 dias que nos separaram, foi o silêncio propositado de ambas as partes (teimo em achar que é mais da tua que a minha) que se tem prolongado até eu finalmente quebrá-lo por não conseguir conviver mais com a tua ausência. Perdoa-me se de alguma forma te incomodei (novamente), precisava urgentemente de te ouvir, talvez até de marcar a minha presença na tua vida para que não me riscasses de vez no livro da tua existência. Como vês, não mudei nada, continuo a ser tímida perante a figura ígnea e avassaladora que representas, balbuciei umas frases que mal me lembro mas as tuas hei-de guardá-las bem cá dentro. Disse-te que tinha insónias e por isso é que me lembrei de te ligar (desculpa esfarrapada, não é?) e respondeste-me ironicamente: ai é, assim vais ter ainda mais insónias! Pois é, Teresa, como tu me conheces, se calhar melhor que eu própria, às vezes tenho a sensação que prevês as minhas atitudes, os meus gestos, sabes o que corre nas minhas veias, no meu pensamento. És terrível como tudo o que é belo, eternamente.

Prometeste que me vais escrever um e-mail, a responder ao meu já há uma semana atrás, fico à espera... Apesar de no fundo do meu coração saber que não o farás. És uma mulher demasiada ocupada, há rios de gente que precisam do teu tempo somente para que os oiças e sentirem que são especiais nem que seja por breves instantes. Eu pertencia a esse grupo degradante de ovelha tresmalhada, a que não siga as regras convencionais de estar na sociedade, disse-te olhos nos olhos que gostava de ti. Foi um erro? É tarde demais para atar os laços que desatei com a traição à tua singela amizade, perdoa-me por te amar.

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