17 de Junho de 2009
Querida Teresa
Que estranho estar a escrever-te por ter perdido uma aposta. Em outrora achava tal ideia descabida, infame, herética; hoje sorrio impassível e livre perante ela, e sobre a tua existência diluída silenciosamente entre os escombros das minhas ocupações sem fim. Deixaste definitivamente de existir, assim como a face de um Eu destrambelhada, idealista, delirante que sorvia fanaticamente a tua imagem, os teus gestos, as tuas palavras sepultados no jazigo do passado irrecuperável. É a consequência do despertar para a realidade e o pragmatismo positivista. É a morte dos sonhos fantasmagóricos elevados ao céu, desnivelados com a vida, e também com o corpo que respira legitimamente de anseios e pretensões. A dança solitária de longos anos, de pés amputados pelo teu silêncio e desprezo agudos terminou finalmente - resultado da exaustão de gritos abafados, contidos, retidos.
Se te visse, não sabia o que te dizer. Já disse tanto e tudo, que nunca me quiseste ouvir. Talvez um sorriso bastasse, um sorriso de desprendimento pela tua mortalidade e finitude reveladas.
3 Comments:
At 3:35 PM, Moony said…
:)
Parece que afinal têm razão quando dizem que o tempo cura tudo...
At 11:56 PM, Moony said…
Sim, tens razão. Concordo contigo :)
At 12:00 AM, quero said…
as tuas palavras são deliciosas
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