a infinita ausência

Monday, January 14, 2008

14 de Janeiro de 2008

Querida Teresa:

Este ano o mar não me trouxe o teu sussurro com votos de um bom ano, nem levou daqui tragos de poesia para te embriagar. Tudo está ancorado na terrível normalidade dos dias, que tu e eu tão abominavelmente repugnamos; porém, nada fazemos, ou melhor, nada fazes para que a minha voz chegue até ti.


SE ME COMOVESSE O AMOR

Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia

caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer

o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.

Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe.


Enviei-te esse magnífico poema de Francisco José Viegas. Mas, nem "De longe" consegui abalar-te, sinto que já não te conheço mais.

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