a infinita ausência

Friday, August 17, 2007

17 de Agosto de 2007 (manhã clara)

Querida Teresa:

Não estás aqui definitivamente, regressaste ao teu cubículo hostil de silêncio da largura do mar. Nem dois poemas extraordinários (haverá algum poema que não seja? os que não o são, nunca terão o privilégio de serem intitulados poesia) te consegui aproximar dos meus braços de ficção virtual. Será que um fio de receio indiscritível te incomoda pela minha viagem, a possibilidade de receberes um telefonema meu para te convidar para um simples café te aborrece até à medula? Talvez nem seja nada disso, eu sofro como qualquer mulher complexa por natureza e inteiramente apaixonada até às vísceras, (eu escrevo, que remédio?, é uma maldição abençoada), e de facto, não sei amainar os meus sentimentos indomáveis, só quando o teu nome, o teu rosto, a tua palavra, a tua existência surgem como única explosão possível de alegria no meu dia é que eu canto com furor e energia solar para o papel. O resto parece-me imensamente trivial, eu sei que é um pecado dizer isso, e no fundo há outras coisas igualmente importantes, mas neste momento o que importa somos nós, este espaço foi aberto simplesmente para o coração falar, chorar, gritar, emudecer, libertar-se da masmorra real que é a vida que corre lá fora com uma normalidade assustadora e um tédio por vezes insuportável (sim Teresa, eu também tenho uma vida lá fora cujas responsabilidades não são menos pesadas que as tuas).
Eu estimo este mundo secreto e sobretudo anónimo, porque não te consigo amar fora dele, não me permites concretizar o amor em matéria, solidificá-lo num beijo; é pela impossibilidade do amor que reside o sentido da tua infinita ausência.

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