27 de Abril de 2008
Querida Teresa:
Nunca mais me lembrei da tua existência virtual, amiúde louvada neste meu mundo semi-anónimo, de ilusão, de paixão desenfreada, de loucura acesa, de desequilíbrio constante. Foi preciso um braço desconhecido para me convidar ao regresso do universo, que afinal, num tempo distante resolvi criar; pois o real, tangível e empírico em que me movia não cabia nem sequer uma gota do mar que envolve os segredos íntimos da minha alma. Foi preciso alguém, possivelmente tocado, comovido, enternecido pelo que escrevi e senti, para me lembrar que, no fundo, te devo uma explicação (curioso este jogo de xadrez solitário, em que te devo tudo, e tu absolutamente nada em relação a mim), se não te devo uma justificação, ao menos sou obrigada a fazê-lo perante quem se compadece ou se sente fazer parte desta tela de palavras estelíferas.
É tudo muito simples (tomara eu dizer isto convictamente em todas as circunstâncias da vida), a causa do meu afastamento, da nossa separação definitiva (pelo menos é isso que tenho sentido nos últimos meses e neste momento não aflora qualquer espécie de remorsos ao dizê-lo) é o eminente silêncio. É, de facto, uma faca de dois gumes, o silêncio: tanto nos pode servir como virtude de prudência, como uma baioneta de desprezo que fere directamente ao coração susceptível. E tens utilizado o silêncio de uma forma tão hábil, Teresa, que conseguiste afastar-me de vez; só tenho um único corpo, foram demasiadas lancetas que me propuseste ferir, creio que despojaste o último chão de orgulho existente em mim, porém, não permiti que continuasses a calar a grandeza da poesia e das palavras. Perante o teu silêncio ao que me é tão importante e essencial, só poderei te retribuir o mesmo silêncio, e confesso, até um certo desprezo, pois não hesito em me virar as costas a quem despreza a beleza do indizível. Se a minha palavra, a sublime poesia que ironicamente volteia os teus dias, não te tocam, querida Teresa, já não tenho mais nada para te dizer.
São muitos anos de desequilíbrio... Viver assim, cansa, não é saudável, não recomendo a ninguém. Podem acusar-me de fraqueza, de cobardia, de tudo aquilo que um ser humano merece ser responsabilizado, quando foge do amor. Mas que sei eu sobre o amor? Este sentimento estranho em que me pus a dedicar durante anos páginas vazias, versos estéreis a uma mulher que nunca toquei? Teresa, perdoa por ter entrado no círculo do "pessoal da pantufa e da serenidade", tal como tu.