a infinita ausência

Saturday, August 26, 2006

26 de Agosto de 2006

Querida Teresa:

Já nem sei o que digo, o que escrevo, o que sinto; começo um poema e evoco-te naturalmente como se doutra forma fosse absurda, estás presente em todas as coisas e ainda mais nas pequenas, profundas, as que estão mais próximas de atingir a perfeição – a escrita, a música, a natureza… Como fugir do que é evidente, diz-me? Vives a tua vida tranquilamente, sem pensar em mim, a minha palavra já não te toca, é-te indiferente, enquanto a tua rejubila o meu dia, o meu coração em cacos (“Apontamento”, lembras-te? É óbvio que sim), eleva a minha vida para uma dimensão imperceptível até ao ponto de me considerar talvez feliz.

Sunday, August 20, 2006

20 de Agosto de 2006

Querida Teresa:

Começo a sucumbir para o vale da tua indiferença, deixo-te traçar a linha do meu destino, não te travo, nem imponho, faz o que tu quiseres. Sabes que estarei sempre aqui.

"I'm so, I'm so tired, I'm so tired of trying..."

Thursday, August 10, 2006

10 de Agosto de 2006

Querida Teresa:

O tempo ruge lá fora, espraiando raios solares alegremente à minha janela fechada, um pouco sufocada confesso (vou abri-la), uma aragem irrompe o meu tédio matinal de quem está demasiado livre para fazer coisa nenhuma ou demasiado presa para querer fazer tudo. Tudo aquilo que a alma cobiça, não é assim muito para quem me conhece, até lhes soa a pouco, os realistas, os práticos – “queriam-me fútil, quotidiano e tributável?”
Todos os dias faço-me a mesma pergunta silenciosamente, no meio dos afazeres domésticos, nos momentos de solidão acompanhada, no meu breve passeio até ao trabalho – devo escrever-lhe? – depois surge as infindas questões de orgulho, trava-se a batalha entre o querer e o dever, o que lhe poderei dizer, será que vale a pena, achas que ela não se vai aborrecer… Por que sempre que resvalo para a tristeza, a incompreensão, o cansaço e as interrogações assustadoras, preciso tanto de ti?

Friday, August 04, 2006

4 de Agosto de 2006

Querida Teresa:

Vejo-me impotente ao querer lutar contra o desejo de te ler, de te escrever, de nos aproximar de novo... Não sei o que é certo ou errado, o que vale a pena ou não, o que é melhor para mim, para ti, para a minha estabilidade emocional... Ao menos pudesses me dar uma luz, uma resposta, ou lançar-me uma pergunta de modo a fazer-me cair em mim, nesta realidade crua e venenosa. Mas nada, nada, é o nada que nos resta, que me une a ti, é o nada que o meu eco de inutilidade me devolve até ao sal último das minhas lágrimas mudas.