a infinita ausência

Friday, August 17, 2007

20 de Setembro de 2007 (carta que fluiu como o rio)

Querida Teresa:

Às vezes, um cristal de silêncio estala nos intervalos infinitesimais entre o labor da rotina e do fruir já natural da melancolia; e num cismar enternecido de imensa solidão, penso na tua aguçada ausência que se instalou pavorosamente em todos os lugares, espaços, cantos, becos habitáveis de existência palpável e abstracta.
A ignorância é um canto de ruídos contínuos, que aprendi a ouvir sem escutar, nadam sobre o meu espírito como peixes invisíveis e intocáveis pela sua insignificância e irrelevância. Respiro com tranquilidade domada pela razão - um crivo necessário para alcançar a ilha longínqua, ainda desconhecida, de encanto e de assombro certificados pela ficção (onde por vezes é mais real que a realidade falível); onde os teus braços me esperam, e quem sabe, o ósculo interdito milenar que nesta vida me sabe a negação inexorável, fruto-veneno proibido.

15 de Setembro de 2007

Querida Teresa:

Regressei ao meu país emprestado, aquele que tu dizes já não te pertencer, mas eu adoptei-o como se tivesse sido meu desde sempre. Estou mais tranquila, a distância que o teu corpo move é a mil anos luz desta sala amena onde escrevo secretamente; a alma já respira com a normalidade necessária para o equilíbrio são. Enviei-te e-mails desde que cheguei, o último não respondeste, mandaste apenas um fwd a anunciar o teu novo endereço electrónico. Óptimo, assim deixarei o silêncio que tanto gostas de morder, no dorso exausto deste sentimento estúpido.

8 de Setembro de 2007

Querida Teresa:

Foi em nome dos 181 e-mails que ao longo destes anos me mandaste, que hoje decidi procurar-te, oferecer-te um presente; sempre que nos encontramos, deixo-te uma lembrança minha, este ano tive a ideia maravilhosa de te presentear um perfume, pois pelos vistos gostaste, aliás, disseste “adorei” e fiz-te lembrar de um odor peculiar na tua adolescência. Infelizmente ou felizmente não te vi, incumbiste ao teu marido para vir buscar “aquilo que me esqueci de te entregar”, (“que chatice, agora não posso, estou a entrar para o duche, deixa-me pensar”) e à uma em ponto, lá estive à espera de entregar a derradeira prenda adiantada dos anos... “Ainda não sei se vou lá estar, se não estiver estará o...”, o sortudo, o privilegiado da tua vida. Ele pareceu-me mais gordo mas mais simpático, não me esquecera; o teu filho, meu Deus, como está crescido, possui um sorriso imensamente belo e cativante como a mãe. Não escondo que fiquei desiludida por não me concederes cinco minutos do teu dia para me ver, apesar de após de ter desligado o telemóvel ter a certeza absoluta de que não virás. Como te conheço bem Teresa...
Pensei não te dizer mais nada porque fiquei magoada, mas ligaste-me depois de abrires o presente, foi uma surpresa muito boa. Então, regresso a ti, silenciosamente, secretamente como uma melancolia crepuscular.

7 de Setembro de 2007

Querida Teresa:

“Achei-te fantástica”, diz-me por que é que não consigo acreditar nas tuas palavras? Soam-me vãs, a eufemismos piedosos por saberes que o meu coração é o único lugar neste mundo em constante mutação, imutável, onde podes ser amada de forma segura, constante, eterna. E por isso, vale a pena agradares-me, não custa nada escrever umas linhas, pois não estás a ser testada na vida real pelo meu olhar atento e bom entendedor. Quando recordo do teu sorriso e do teu abraço no momento tão verdadeiros e intensos, um cansaço secular esbofeteia-me de vexame, porque depois desse espectáculo comovente só me ofereces silêncio perante o meu desespero.
Parto daqui a dois dias, a minha alma espera com avidez um pouco de paz e sossego, preciso de te esquecer por instantes, não quero me enlouquecer e decidir correr onde sei que poderás estar, e humilhar-me.

6 de Setembro de 2007 (madrugada de impotência)

Querida Teresa:

A insónia ataca-me com brutalidade, e é a tua voz que eu anseio ouvir na escuridão opaca deste quarto... Lamentavelmente voltei ao ciclo vicioso da angústia amorosa que decerto calculas o seu poder sobre mim, mais o desespero silenciado até à exaustão porque é um segredo que escondo do mundo real que nos possa conhecer (quanto menos gente souber, melhor para ti, eu não me importo que me apontem o dedo mas jamais permitirei que o façam a ti). Sei que não me vais dizer nada sobre as cartas de amor repletas de infâmia que te mandei no momento crítico de delírio amoroso; hoje peço-te que esqueças aquelas palavras, rasga-as se puderes e deixa que o vento as leve para uma ilha deserta – o meu espírito estará à tua espera ao fim dos séculos, com a mais bela poesia tatuada nos pulsos.

6 de Setembro de 2007 (crepúsculo de amargura)

Querida Teresa:

Ontem creio que uma parte de mim morreu contigo, no momento do adeus, do abraço que me brindaste, do aperto das mãos que por duas vezes me embalaste de alegria tristemente efémera. Depois, só me lembro de estar a deambular-me pelas ruas, ao encontro dos teus passos, da tua face bela cravada no meu pensamento; roer-me de auto-flagelo por não te ter dito tudo o que queria dizer, de novo foi o mutismo que declarou o meu carinho desmedido por ti.
Hoje espero um sinal teu em vão, absolutamente previsível, porém. A amargura é intensa embora saiba que o tempo, de novo, há-de atenuar esta ferida que desabrochou pelo (re)encontro (in)feliz. De facto, não sei celebrar nobremente o amor que carrego há tantos anos por ti, não consigo alegrar-me apenas com a tua presença virtual de forma esporádica, necessito da tua existência real – corpo, rosto, olhar, voz, toque. E isso, de novo, reitero, jamais terei na total plenitude.

5 de Setembro de 2007

Querida Teresa:

Meu Deus, como continuas na mesma, bela até doer; quem me dera estar 24 horas a olhar para ti, a ouvir-te falar, a ver-te rir. Dizes que estou diferente, tenho brilho positivo, já não me visto apenas em preto; hoje descubro que não mudei Teresa, por mais luz que possa transmitir, por mais madura que possa transparecer, por mais mulheres que conheça, ninguém me estremece dessa forma inexplicável nem musa alguma terá o teu lugar no fundo do meu coração. E jamais serei correspondida, sabes o quanto essa impossibilidade me dilacera?!

3 de Setembro de 2007

Querida Teresa:

Nem uma palavra; posso aceitar um não tenho vontade de te ver, mas não perdoo o silêncio doloroso que embora tenha o mesmo significado há o acréscimo do desprezo abominável a alguém que, pelos vistos, não é minimamente importante para ti. Esse alguém que te ama silenciosamente durante oito anos, e quando não cala o amor que lhe rasga as veias de lirismo lancinante, celebra-o com vigor, paixão, júbilo. Mas até quando? Até quando vou suportar a tua indiferença perante a grandeza do meu sentimento, a tua frieza ao meu apelo ardente de uma frase ou palavra tua como se fosse alimento indispensável à minha alma?

28 de Agosto de 2007

Querida Teresa:

Já moro debaixo do mesmo céu que tu há precisamente uma semana. Confesso que penso em ti todos os dias, observo atentamente a multidão nos lugares em que a probabilidade de apareceres é maior, e coloco-me a mesma questão há uma semana: escrevo-lhe, digo-lhe para nos encontrarmos? Porque efectivamente necessito de te rever, boa Teresa, como se a minha viagem fosse um desperdício se isso não acontecesse, como se fosse deixar um membro meu esquartejado nesta terra amaldiçoada no dia da minha partida e ficasse incompleta. Mas o pavor de não me quereres encontrar ou que isso fosse uma maçada para ti é enorme, desmedido como o silêncio inquieto desta sala vazia.

17 de Agosto de 2007 (manhã clara)

Querida Teresa:

Não estás aqui definitivamente, regressaste ao teu cubículo hostil de silêncio da largura do mar. Nem dois poemas extraordinários (haverá algum poema que não seja? os que não o são, nunca terão o privilégio de serem intitulados poesia) te consegui aproximar dos meus braços de ficção virtual. Será que um fio de receio indiscritível te incomoda pela minha viagem, a possibilidade de receberes um telefonema meu para te convidar para um simples café te aborrece até à medula? Talvez nem seja nada disso, eu sofro como qualquer mulher complexa por natureza e inteiramente apaixonada até às vísceras, (eu escrevo, que remédio?, é uma maldição abençoada), e de facto, não sei amainar os meus sentimentos indomáveis, só quando o teu nome, o teu rosto, a tua palavra, a tua existência surgem como única explosão possível de alegria no meu dia é que eu canto com furor e energia solar para o papel. O resto parece-me imensamente trivial, eu sei que é um pecado dizer isso, e no fundo há outras coisas igualmente importantes, mas neste momento o que importa somos nós, este espaço foi aberto simplesmente para o coração falar, chorar, gritar, emudecer, libertar-se da masmorra real que é a vida que corre lá fora com uma normalidade assustadora e um tédio por vezes insuportável (sim Teresa, eu também tenho uma vida lá fora cujas responsabilidades não são menos pesadas que as tuas).
Eu estimo este mundo secreto e sobretudo anónimo, porque não te consigo amar fora dele, não me permites concretizar o amor em matéria, solidificá-lo num beijo; é pela impossibilidade do amor que reside o sentido da tua infinita ausência.

17 de Agosto de 2007 (noite imensa)

Querida Teresa:

Já passaram sete meses desde o nosso último encontro aqui, não poderei dizer cantinho recôndito porque uma velha amiga nossa já me descobriu, mas não será por isso que deixarei o meu breve desabafo desaguar nesta tela virtual. Entre nós houve correspondência trocada, silêncio intermitente, palavras sem voz nem boca que não cabem na imensidão deste espaço solitário. Creio que durante estes anos fui crescendo tranquilamente (confesso que não da forma célere que eu gostaria, da forma que possibilita florescer o teu amor por mim) e reparo que continuas a ser a Teresa que eu conhecera e por quem me apaixonara no exacto momento em que te vi, embora me digas constantemente que estás a envelhecer por dentro e por fora. (Resides nas memórias vastas de uma refugiada leal que te abrigará na velhice). Há momentos em que necessito de exaltar as memórias para que a foice do tempo não as ceife nem um fragmento, daí surge um e-mail meu na tua caixa de correio, porém, já não espero com ânsia infantil por uma resposta tua. Daqui a uns dias estarei perto de ti, só me resta saber se terei coragem de destapar o sol que me arde os olhos só de imaginá-lo na minha frente, incapaz de suster um corpo incendiado ao lado do mar imenso de doçura intocável.