a infinita ausência

Tuesday, January 29, 2008

29 de Janeiro de 2008

Querida Teresa:

Tenho vindo a ser assaltada pelas imagens dos lugares da minha infância; das avenidas turbulentas por onde passas, dos hotéis magníficos construídos recentemente mesmo ao pé de onde trabalhas, das lojas de roupa de marcas internacionais, das pontes cuja beleza só se vislumbra de noite com os seus dedos em fogo a apontar o céu. Serão saudades da terra, de ti, da criança que fui? Só queria que me ouvisses de vez em quando, como se esse facto me desse forças para acreditar, continuar, lutar pelo (nosso) sonho. Disseste em outrora que não ias morrer sem ver o meu sonho realizado. Não tenho ninguém com quem partilhar a minha fragilidade que tão bem conheces, do meu eterno medo de não estar à altura do meu sonho. Diz-me o que posso fazer para permanecer na tua vida, enquanto não fazes absolutamente nada e estás em mim, em toda a parte?

Monday, January 14, 2008

14 de Janeiro de 2008

Querida Teresa:

Este ano o mar não me trouxe o teu sussurro com votos de um bom ano, nem levou daqui tragos de poesia para te embriagar. Tudo está ancorado na terrível normalidade dos dias, que tu e eu tão abominavelmente repugnamos; porém, nada fazemos, ou melhor, nada fazes para que a minha voz chegue até ti.


SE ME COMOVESSE O AMOR

Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia

caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer

o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.

Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe.


Enviei-te esse magnífico poema de Francisco José Viegas. Mas, nem "De longe" consegui abalar-te, sinto que já não te conheço mais.