a infinita ausência

Monday, July 18, 2011

18 de Julho de 2011

Querida Teresa


Tem chovido nestes últimos dias, tenho conseguido encontrar paz de espírito no meio do turbilhão comercial, industrial e da correria dos afazeres domésticos e familiares. Não há um único dia em que não vá reler os teus e-mails como se fossem um afago e um consolo para a minha alma sedenta da tua estima. Mesmo que não me digas mais nada, o pouco que escreveste é-me suficiente, basta para sustentar a nossa amizade por mais um longo período de ausência. No fundo, não é necessário que venhas a saber dos meus sentimentos, provavelmente já o sabes, pois conheces-me bem e estás bem informada sobre a medida da minha lealdade que é desmedida. O meu sentimento, que passou por provas do tempo e do fogo, vale por si só, vale mais do que todos os amores que tiveste ou venhas a ter...

Saturday, July 09, 2011

9 de Julho de 2011

Querida Teresa


Passou apenas um dia quando partiste para respirar o ar puríssimo das montanhas, sentir a temperatura gélida cortante e a adrenalina viva do esqui. Eu estou presa nesta cidade cosmopolita, cinzenta de betão e de fumo, atulhada de gente pouco civilizada mas pujante de fortes odores corporais. O que dava luz, cor e vivacidade a esta terra era a tua existência nela, era a ideia entusiasmante de poder encontrar-te a qualquer momento. Agora tudo se me tornou indiferente. Quando regressares, já eu estaria em Portugal, voltarei à normalidade dos dias e das ocupações mais úteis. Espero com ansiedade que me escrevas, que me envies fotografias da tua viagem - não me desiludas desta vez. Vou agora embriagar-me nas leituras, é a única coisa enriquecedora que se pode fazer aqui.

8 de Julho de 2011

Querida Teresa


Trocámos correspondência electrónica nos últimos dias, por isso hoje soube da tua partida para o outro lado do Pacífico, para umas férias merecidas. Escrevi-te um longo e-mail a falar da minha vida, dos meus pensamentos, dos meus planos futuros, e espero uma resposta tua quando regressares. Tenho saudades de te ler, de te ver, de te ouvir, da alegria imensa e do êxtase divinal sempre que nos encontramos. Não vou lamentar pelo destino cruel que nos separa durante um ano inteiro e me concede apenas 5 minutos da tua presença e companhia num dia ao acaso de verão. Pois estes breves minutos eternizam um momento cujo sabor da memória jamais perecerá enquanto eu respirar. Sou plenamente feliz nesse curto espaço, enquanto há gente que nunca o será. Não tenho razões para evocar a tristeza, o desespero, a angústia de um amor impossível, proibido, não correspondido, pois se tiver a tua amizade e receber um olá teu de vez em quando, é o suficiente para eu ter uma ideia do que é navegar no mar abençoado de felicidade.

Wednesday, July 06, 2011

7 de Julho de 2011

Querida Teresa


Escrevo-te com uma breve alegria cintilante a trespassar a minha manhã clara de ouro sobre o azul do céu. A minha alma está em harmonia com a natureza, com os meus pensamentos, com as minhas palavras, com as minhas acções, porque tudo me impele a ti - ao teu sorriso miraculoso, ao teu rosto de Narciso eternamente jovem e perfeito. Oiço o bulício da manhã, o cântico dos pássaros, contemplo a beleza e a força da majestosa montanha que se me revela não em plenitude mas numa parcela dela, pela imposição de infra-estruturas altíssimas capazes de arranhar o céu, produzidas em série como cogumelos venenosos. Mas estou em comunhão com o que há de mais sagrado da Natureza: os animais, as árvores, as águas, as nuvens, o ar, que no fundo são o que influi vida e energia à nossa vida, hoje em dia vivida de uma forma mesquinha, egoísta e inconsequente. Mas falemos de ti, falemos de nós. Nada pode haver de mesquinho, egoísta e inconsequente na nossa relação, pois quero-a enaltecer, sublimar, divinizar em um amor multiplicado, duradouro e capaz de estremecer os corações mais rudes. Ontem escrevi em jacto dois poemas que te são dedicados. Há muito que não escrevia em verso, a minha fraca veia poética só palpita com o teu canto e é domada com a tua lira. Pude expressar a minha inquietação na sua forma mais plena, que é através da poesia, e pude fazê-la chegar até ti. A poesia tem sempre sido a única ponte possível entre os nossos corações que comungam o mesmo destino abissal. Enviei-te, portanto, um e-mail sem certezas de uma resposta, mas que acabou por chegar à minha caixa de correio; quando a abri vi o teu nome a tremeluzir de fulgor, enunciando um milagre. Três linhas que transformaram a noite em dia, a minha alma de sargaço em rica de espírito primaveril. Medito agora uma resposta perfeita, capaz de fazer-te regressar aos meus dias, dando-lhes um sentido redobrado de ternura, poesia, fé, esperança.

Sunday, July 03, 2011

4 de Julho de 2011

Querida Teresa


Espasmos de melancolia têm vindo a sobressaltar o meu espírito depois de te ver, e uma ânsia traquila percorre o meu corpo terno de clamorosa juventude e de insubmissa paixão. Todavia não temo pela impossibilidade de te não rever, não vacilo trémula ante o precipício de um fim há muito decretado por ti - deusa toda poderosa que escreve impacientemente por linhas tortas o livro do meu destino. Porém, continuo a fazer-te oferendas de sacrifício do que há de melhor em mim, no altar magnificente do espaço sideral invisível aos olhos desapaixonados, turvos pela harmonia risível do comodismo, da monotonia, da rotina, da apatia. Por isso, ninguém te vê em mim, só eu te vejo no espelho e te sinto palpitar na infinita espiral bojuda do meu dedo indicador. É aí que surges em palavras quando escrevo já no limiar da angústia liquefeita em pó; é aí que tudo recomeça, quando entoo o hino do amor subtil e faço a dança xamânica para expelir o que é nocivo entre nós. Depois o clamor do desespero deixa de ter importância, já mal o oiço, e a maravilha do amor honesto traça uma linha reluzente, esplendorosa, sagrada entre a eternidade e o agora.

Friday, July 01, 2011

1 de Julho de 2011

Querida Teresa



Voltei há uma semana para esta minha estimada cidade, cada vez menos minha, cada vez mais corrompida por um cosmopolitismo que não se coaduna com uma população cuja cultura milenar sempre fora centrada na simplicidade, nos ritos e nas superstições. Em cada esquina e ruela apertadas ressoam o sino da cidade do meu passado, longínquo e perto ao mesmo tempo, como se a menina que eu era, correndo alegremente a calçada livre de pegadas forasteiras de hoje, ainda residisse aí. Todavia sei que a essência deste pequeno mundo transformou radicalmente para algo que não sei definir, porque me é totalmente estranha. Por isso, trago um rasgo de amargura no meu olhar que perdura no meu sorriso quando reencontro familiares e conhecidos na rua.


Curiosamente não tive uma réstia de intenção de ir ao teu encontro, como em outrora. Sabes que ao longo de anos e meses de silêncio, sempre propositadamente cultivado da tua parte, e de circunstâncias naturais mas adversas e inesperadas que passei, fizeram com que hoje me sinta diferente e tenha a visão do mundo e das coisas também diferente. Não te vou explicar detalhadamente do que sucedera, pois conviria acontecer numa conversa a duas, pessoalmente, para que tu possas saber e sentir do que estou a dizer. O que importa aqui referir, é o facto de, sem esperar e sem desejar te vi e te encontrei. Um pouco mais de 14 horas atrás, surgiste inesperadamente, esbelta, subtil, leve, reluzente, miraculosa, bela até doer - sorrindo. Quando te vi, pude aperceber-me em total plenitude cada metamorfose que os amantes são forçados a passar, quando a seta do Cupido os fere profundamente, sem dó nem piedade. Pensei que a minha seta já tivesse sido extraída e a ferida cicatrizada com o tempo, com outros rostos, corpos, beijos humedecidos. Tentei com algum esforço em ter graça sem ser engraçada, comunicativa sem dizer nada de relevante, esconder o meu embaraço que se avivava com o pulsar frenético do meu coração a quedar em pique. Lembro-me de outras visitas que te fizera no passado, nunca me concedias mais do que 5 minutos, desta vez ouviste-me falar atentamente, pela primeira vez senti que não estavas a escorraçar-me. Provavelmente deveu-se ao facto de conseguir controlar a minha timidez e desapegar-me à ideia de que és a deusa imortal e invencível dos meus sonhos mais recônditos. Posso continuar a pensar dessa forma, e indubitavelmente penso, mas agir como se tal não tivesse importância; pois é tudo uma questão de auto-controlo e de chamar a voz da razão para abafar a da emoção que descarrila desvairadamente.


Depois já não consegui parar de pensar em ti, de suspirar, de esperar que mais um encontro ocasional pudesse acontecer, porque não vou chamar-te pela minha voz, não vou abarcar-te com os meus braços, não vou seguir os teus passos com os meus. Pois, se eu os fizer, já não seria a mesma coisa, já não reagirias da mesma forma, já não valerá a pena. Assim, espero-te, como sempre, porque mesmo que não surjas em pessoa, em qualquer parte do mundo eu vejo-te com clara nitidez: "Em todas as ruas te encontro, em todas as ruas te perco".