a infinita ausência

Thursday, June 25, 2009

25 de Junho de 2009

Querida Teresa

Hoje o tempo inspira para a escrita, em outrora dizias: está um dia de poemas. E de facto é, um tempo para a melancolia sair do seu casulo que é a alma, vir respirar ao mundo, esticar os membros, deixar as suas pegadas e recolher-se. Venho deixar hoje as pegadas da melancolia, palavras que ficam e não se dissolvem com o tempo, nem com o teu esquecimento tão hábil.
Hoje estou extraordinariamente serena e convicta do caminho que pretendo seguir. Mais um ano terminarei a minha licenciatura e já faço planos para seguir outra, de modo a preparar-me: acumulando "munições" no aperfeiçoamento da destreza intelectual para a minha grande tese. Não há dúvidas de que nasci para estudar, e o trabalho de estudante é o mais nobre como dizia um autor barroco. Faz-se com prazer, com saber apesar de muito esforço porque é um trabalho sem fim, mas é precisamente aí que reside o fascínio e o desafio.
Acredito que um dia que eu tiver firme orgulho de mim e que seja admirada, serei capaz de olhar-te sem temor.

Wednesday, June 17, 2009

17 de Junho de 2009

Querida Teresa

Que estranho estar a escrever-te por ter perdido uma aposta. Em outrora achava tal ideia descabida, infame, herética; hoje sorrio impassível e livre perante ela, e sobre a tua existência diluída silenciosamente entre os escombros das minhas ocupações sem fim. Deixaste definitivamente de existir, assim como a face de um Eu destrambelhada, idealista, delirante que sorvia fanaticamente a tua imagem, os teus gestos, as tuas palavras sepultados no jazigo do passado irrecuperável. É a consequência do despertar para a realidade e o pragmatismo positivista. É a morte dos sonhos fantasmagóricos elevados ao céu, desnivelados com a vida, e também com o corpo que respira legitimamente de anseios e pretensões. A dança solitária de longos anos, de pés amputados pelo teu silêncio e desprezo agudos terminou finalmente - resultado da exaustão de gritos abafados, contidos, retidos.
Se te visse, não sabia o que te dizer. Já disse tanto e tudo, que nunca me quiseste ouvir. Talvez um sorriso bastasse, um sorriso de desprendimento pela tua mortalidade e finitude reveladas.