a infinita ausência

Wednesday, October 17, 2007

22 de Outubro de 2007

Querida Teresa:

São quase duas da manhã; ouve-se uma mistura de sons estranhos lá fora, cantos humanos, sussurros do vento, a pura mudez da noite. O cansaço afaga-me as costas dobradas de mil anos de existência de lassidão, talvez já com a tua fiel companhia a assombrar-me entre o maravilhoso e o terror – “terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo”. Bebo o chá para tranquilizar a mente, hoje, ressequida por experiências desgastantes, aborrecidas, terrivelmente quotidianas; e tu és o meu refúgio nocturno possível.

17 de Outubro de 2007

Querida Teresa:

Hoje a melancolia fez-me regressar a ti silenciosamente, como se não existisses; e de facto, não tens existido da forma implacável que me habituei a respirar. E hás-de continuar assim, até que um dia quebres o gelo da tua boca cozida de linhas frias de indiferença, ao pronunciar o meu nome. Renunciei à delicada e obstinada perseguição à tua imagem que jazeu há séculos na orla mirífica da minha adolescência; e a cada encontro real vejo a minha frágil pequenez reflectida em cada sublime gesto teu - terríveis momentos ínfimos que sou obrigada a guardá-los, calá-los no chão mais próximo da alma. Por mais longe que o meu sentimento por ti possa alcançar, uma nesga de orgulho aconselha-me a espera. A espera do mais puro insignificante gesto teu.