a infinita ausência

Thursday, October 23, 2008

23 de Outubro de 2008

Querida Teresa,

Deixa-me saudar-te com a força do sol esplêndido, que neste momento me arrebata a inspiração com o seu calor. Está efectivamente um dia bonito, em que apetece estar em casa e não me fechar num cubículo de ferro, aço, madeira para no final do mês ter uns míseros euros para a sobrevivência. No entanto, isso é tão necessário como o alimento da alma e do espírito que é a escrita - não só de pão vive o homem mas não se vive apenas de utopias nem de fantasias. Quando tinha dezassete anos julgava que era possível viver e morrer por tua causa, pelos vistos, dez anos depois continuo a respirar com urgência como um clarão. Tenho em mente alguns projectos, ando a esboçar textos, versos, ideias tão refulgentes que chegam a arder as minhas mãos. Trago-as acesas, quentes, sedentas de palavras, as que transbordam do meu corpo para o papel, as passíveis de reclamar o teu regresso.

Tuesday, October 21, 2008

21 de Outubro de 2008

Querida Teresa,

Hoje reencontrei uma velha amiga nossa; é curioso como o tempo consegue albergar em si tamanha contradição: simultaneamente nos perpassa trazendo na sua foice a velhice, os dissabores e os achaques, assim como as amizades afinal indeléveis, que teimam em firmar a sua posição ante as pregas do rosto e a intumescência abdominal. Não houve ensejo para discorrermos as páginas nem sempre felizes dos velhos tempos, mas senti de facto a tal suavidade em nada se dizer e tudo se entender que falava o mestre. Este reencontro não só me trouxe essa sensação fantástica do tempo intacto relativamente à amizade, mas também me levou até ti, às recordações eivadas de sentimentos contraditórios onde a felicidade e o desespero eram duas faces da mesma moeda. Não lamento o silêncio que se apossou da tua boca, nem das tuas mãos, porque não hei-de permitir que o teu silêncio se apossa da minha esperança e da minha vontade, transformá-las em angústia e desesperança. Todavia, sabes que estarei onde tu me quiseres encontrar.

Wednesday, October 08, 2008

8 de Outubro de 2008

Querida Teresa,

O mês de Outubro lembra-me de ti, o mês de Setembro já me trazia um rastro de premonição, de centelha esfuziante que crepitava o meu lado esquerdo do coração. É pois, o nosso mês, o das balanças incompreendidas e insatisfeitas, as que mordem o silêncio como um cravinho amargo. O teu silêncio já se tornou uma rotina, entranhou-se nos meus dias amenos sem ternura nem estremecimentos súbitos. Não te persigo pelos corredores vazios da memória; não escalo as montanhas cinzentas em busca do indefinível onde talvez possas estar; não sustenho a respiração por causa da tua ausência para depois extasiar-me e renascer sob a tua palavra. Todavia, enviei-te palavras, talvez para ti meras palavras vãs, mas que por vezes, são tão necessárias como olhar demoradamente o mar. Parabéns por existires.