a infinita ausência

Thursday, March 31, 2005

31 de Março de 2005

Querida Teresa:

O calor está de volta, escrevo-te com amargura porque ainda não me disseste nada e sei que tão cedo não terei novas tuas. Que posso fazer? Não me apetece escrever-te a choramingar "porque não me dizes nada?", "foi algo que falei para tu te afundares no silêncio?", "tenho saudades de te ler", essas tretas todas! Oh Teresa, por que me dás um doce e depois viras as costas e desapareces? Não te entendo, não queria sentir tudo isto que dá cabo de mim.

Tuesday, March 29, 2005

29 de Março de 2005

Querida Teresa:

Hoje abri o e-mail box e não te encontrei. Fiquei tão desiludida parece que a manhã escureceu a partir daquele instante. Depois pensei, podes estar ocupada, podes ter saído para dar um longo passeio com o teu filho e não tiveste tempo suficiente para me escrever. Ou a pior das hipóteses, fartaste-te de mim, não me vais querer ler amanhã ou depois de amanhã, tudo bem, vou-te dar espaço, não te chateio mais.

Monday, March 28, 2005

28 de Março de 2005

Querida Teresa:

Mandaste-me uma foto, continuas linda é claro apesar de ter notado umas rugas a brotar no canto dos teus olhos mas isso é natural e não diminui a tua beleza e o impacto que ela tem em mim. Mandei-te a minha também, disseste que eu pareço uma menina, será que é bom ou mau? Preferias-me mais madura? Gostas de mim assim? Não te vou fazer essas perguntas, pois tenho medo que fujas (novamente). Estás de férias por isso tens mais tempo para responder aos meus e-mails, não imaginas como me alegra ler o teu nome quando abro a página, hoje está de chuva mas sinto toda a luz do sol a inundar a minha alma. Adoro-te.

Wednesday, March 23, 2005

23 de Março de 2005

Querida Teresa:

Resolvi escrever-te e acabaste por me responder. Não sei se foi impressão minha mas senti que estavas impaciente talvez estejas cansada com o trabalho ou com os mil afazeres que estão sempre à tua espera. Escrevi-te outro e-mail mesmo agora, não conseguia deixar para amanhã apesar do sono que me está a invadir, pois assim sou capaz de te ler mais rapidamente.
Sabes, acho que ainda não conseguiste aceitar o facto de eu ser lésbica e o pior é a possibilidade de desejar-te, querer tocar-te e esperar que algo íntimo ou físico possa acontecer entre nós mas repara que nunca te faltei ao respeito e jamais o farei, os abraços que existiam entre nós foste tu que mos deste, não te pedi nada, nem hoje peço... talvez um pouco de atenção, nada mais.

Thursday, March 17, 2005

17 de Março de 2005

Querida Teresa:

Ontem estive a remexer nos papéis antigos, reli alguns e-mails que me mandaste, contemplei as tuas fotos que imprimi e fiquei com uma vontade tão grande de te escrever, de te abraçar através das palavras, pois já que doutra forma isso é impossível, não só pela distância mas também pelo facto de saber que não ias gostar muito. Para redimir um pouco desta saudade colossal, escrevo-te aqui talvez um dia venhas a saber, só espero vir a ser uma boa surpresa, fazer-te sentir que és especial, importante, que a tua existência não é vã nem sequer é cruel para mim como tu uma vez me disseste.
Gostava de te contar as novidades mas há uma força inconcebível que me retrai, não sei se é o eterno medo de ser desprezada, de ser chata, não gosto chatear-te, tu sabes disso, só quero o teu bem. És o meu tesouro.

Monday, March 14, 2005

14 de Março de 2005

Querida Teresa:

Tenho tido imenso trabalho e por isso é natural que esteja cansada fisicamente. Nem são dez horas da noite e já estou com sono, fiz questão em vir dar-te um beijinho de boa noite antes de ir para a cama. Sabes, infelizmente é raro sonhar contigo, as poucas vezes que sonho acordo tão bem disposta, deixa-me na pele a leve sensação de que estivemos mesmo juntas, quase que te sinto como em outrora quando tomávamos um café... Basta a tua presença para cintilar o meu dia mas até a vaga memória dela faz tanta diferença.

Thursday, March 10, 2005

10 de Março de 2005

Querida Teresa:

Pensei em escrever-te mas vacilei, temo em não obter resposta e isso seria prova de que estou a incomodar-te. Infelizmente sei que te incomodo com a minha dedicação sôfrega, a minha ansiedade de te tocar levemente através das palavras, sei que tens medo de me dar esperanças de que um dia algo poderá existir entre nós. Eu sei que não te mereço, não sou homem bem constituído, elegante, bonito, charmoso como o Brad Pitt que tanto gostas; sou simplesmente uma mulher sensível com rios de amor à espera de transbordar para o teu corpo, não sou capaz de te erguer com os meus braços mas seria capaz de perdurar a tua existência com a minha palavra, rechear as tuas horas com o meu amor incomensurável, amar-te inteira, cada fio de cabelo teu, cada ínfimo poro da tua pele.

Monday, March 07, 2005

7 de Março de 2005

Querida Teresa:

Há uma vaga sensação de desconforto, não sei o que é, não consigo ainda decifrar a sua causa, tactear a sua textura, é provável que provenha da tua ausência cada vez mais longa, cada vez mais profunda mas tenho de acrescentar um ponto curioso: já não te espero ao virar da esquina da eternidade, não vou lançar mais gritos contidos em lágrimas ao mar para que os oiças ao longe. Cansei-me de ser um farrapo compadecido prostrado a teus pés sem dignidade, brilho e vida. Quero provar-te que também sou luz, capaz de trespassar-te, ruborizar-te, fazer-te ascender até à plenitude do ser e por isso não te espero, irei ao teu encontro no dia em que todos os sinos do mundo ribombarem para te dizer o quanto te amo!

Wednesday, March 02, 2005

1 de Março de 2005

Querida Teresa:

Imagino-te defronte de mim como em outrora estiveras, graciosamente subtil, és uma infinda luz impossível de alcançar, olho-te taciturna quase cabisbaixa porque a tua presença aniquila tudo que existe à minha volta, todos os poros onde se respira, as palavras que tanto amo adquiram uma existência fora da minha total compreensão - desvanecem.
Será que alguma vez entendeste a cultura do meu mutismo ensurdecedor?

Tuesday, March 01, 2005

28 de Fevereiro de 2005

Querida Teresa:

Estou no café, a pensar em ti e escrevo-te através dum guardanapo quadriculado para me aproximar de ti, para unir o meu abismo ao teu, para não respirar o odor do vácuo e da solidão que os lugares públicos me causam.
Estou rodeada de gente aprisionada na TV por causa dum jogo de futebol, não me diz absolutamente nada, na maior parte das vezes vivo fora do tempo e espaço presentes, teimo em permanecer onde tu me deixaste, simplesmente estagnei e não sei como me encontrar.
Hoje estou particularmente sensível e a vida parece-me infinitamente insustentável.