5 de Janeiro de 2009
Querida Teresa
Os dias correm céleres, sem deixar nenhum rasto para que eu possa agarrar e dizer: eis o sentido da minha existência. Corro atrás do tempo, das responsabilidades sociais, dos velhos sonhos, dos eternos fantasmas interiores, sempre atrasada, e por vezes exausta. Corro sem saber porquê. Faço um intervalo nesta corrida desenfreada para te falar agora. Porque daqui a uns instantes a azáfama dos papéis me chamariam, e eu deixaria de ouvir o canto do Orfeu, de ver a dança das musas, de entrar no universo da palavra onde pode caber o infinito e o indizível. O facto de não te evocar sistematicamente ou não te perseguir diariamente é porque talvez tenha compreendido a belíssima Ode VI de Camões - pode um desejo imenso arder no peito tanto... Não necessito de te ver, de nos falarmos, para que o amor floresça em pleno. Há a visão espiritual e intelectiva que Santo Agostinho proclamava, e eu espero conseguir chegar lá um dia.