a infinita ausência

Wednesday, October 03, 2012

3 de Outubro de 2012

Querida Teresa,

É doloroso ver-te definhar fisicamente e psicologicamente a cada dia que passa, sem conseguir atenuar o teu sofrimento. Estou longe e impotente. Não consigo compreender a crueldade da outra pessoa para contigo, como é possível? Coloquei-te no mais elevado pedestal ao longo destes anos e só de imaginar que poderia te causar uma ponta de mágoa, morreria de aflição. Não sei se por este mundo fora, haverá alguém capaz de te estimar como eu o faço - espero bem que sim. Quero muito que reencontres o Amor, que te alicia para a vida, para a alegria, para sorrisos rasgados; não este que te sorve para o abismo mais profundo das trevas.

Monday, October 01, 2012

20:23

Não obtive resposta dos e-mails que te enviei, foi uma tentativa de semear sorrisos no teu caminho, por agora infinitamente doloroso. Sei disso porque visito regularmente o teu blog e já amei assim, já me deixei rasgar por um sentimento inominável e violento. Imagino que hoje a tua depressão tenha sido de tal forma insuportável que as imagens engraçadas que mandei só agravava o teu mal-estar. Apercebemo-nos da nossa tristeza miserável quando a graça não nos toca, o belo não nos enternece e a angústia alheia não nos comove. Vejo-te do outro lado da margem e tento atenuar a tua aflição com palavras doces, lúcidas, compreensivas, racionais, embora eu saiba que será em vão.
Cheguei à conclusão de que a infinita ausência de ti ao longo destes anos era um véu que cobria outras ausências mais duras e inconscientes que a minha alma queria a todo o custo evitar observar. A veia romântica achou que sofrer pela ausência de um amor impossível seria mais nobre, e escrevê-la poderia ser um último grito de libertação. Agora vejo tudo com mais nitidez, sem realmente conhecer a semente de onde tudo isto gerou, não é possível nenhuma redenção, ou o vago sabor dela seria uma efémera ilusão.
Gostava que pudesses compreender que és tu a criadora do teu universo de dor e que só tu poderás pôr fim a isso... Mas como fazê-lo se teimas em achar que só a outra pessoa te fará feliz? Só posso dizer-te que only time can heal what reason cannot (Seneca).

1 de Outubro de 2012

Querida Teresa,

Mudei de ideias e escrevi-te, fui ao teu encontro com um coração aberto nas mãos, sem nada a querer em troca. Alegraste-me com a tua alegria e sei que é isto que devo fazer, pois se digo que gosto de ti, há que mostrá-lo, palavras bonitas leva-as o vento - deixei de querer ser poetisa, amante impossível, sonhadora acordada; agora quero ser apenas tua amiga, amiga a valer, que sofre com o teu sofrimento e rejubila com a tua felicidade. Não se consegue obrigar ninguém a amar-nos ou a deixar de nos amar. A amizade é uma ramificação do amor, igualmente bela, e até menos complicada. Nesse sentido, não tenho razões para me lamentar, julgo que a nossa relação atingiu um equilíbrio que jamais pensaria que pudesse ser. Sinto-me bem assim, sem ansiedades, julgamentos, críticas, queixumes; sinto que agora estou em condições de gostar de ti com inteireza, integridade e leveza - só este tipo de amor dura e vale a pena cultivar. Estamos livres, deixemos as âncoras para os egoístas e os inseguros.