a infinita ausência

Wednesday, January 26, 2005

26 de Janeiro de 2005

Querida Teresa:

Quando menos espero é que me fazes uma surpresa. Escreveste-me logo dois e-mails, quer dizer um que o outro é fwd, os tais e-mails que reencaminham para toda a gente sem interesse nenhum. Alegraste-me a manhã mas existe sempre aquela tristeza vaga que pousa no canto da minha boca por imensos motivos incluindo a tua ausência física. Discuti com um colega de trabalho que por incrível que pareça eu é que acabei por me sentir mal e culpada... Hoje deve ser daqueles dias que se riscam no calendário para esquecer definitivamente. E existe a eterna angústia, a velha angústia de Álvaro de Campos...

Tuesday, January 25, 2005

25 de Janeiro de 2005

Querida Teresa:

Ontem fui a Coimbra ter com uma amiga com a intenção de falar sobre ti, desabafar abertamente, espalhar os cacos sentimentais no chão para ver se juntas conseguimos encontrar uma solução de os unir novamente. Em vão. Tenho a sensação que ninguém me consegue compreender nem tão pouco sei explicar o turbilhão de emoções que redemoinham constantemente na minha alma.
Finalmente disseste alguma coisa, respondeste ao meu (ridículo) e-mail, por incrível que pareça não tive a reacção imediata de te escrever, sou boa entendedora, pelas tuas poucas palavras que pareciam gozar comigo, atirar uma esmola ao chão para que a mendiga a apanhe e te agradeça? Por ora, terás o meu silêncio que tanto desejas.

Friday, January 21, 2005

21 de Janeiro de 2005

Querida Teresa:

Hoje sinto-me tão exausta sobretudo psicologicamente. Ontem mandei-te um e-mail, mais um a lançar ao olvido do mar, impossível de alcançar ou compreender. Todos os dias leio mais de uma vez a única mensagem que me mandaste para recriar a tua irreal presença, a tua sombra intangível, uma memória distante do teu cheiro. Tens de me dar forças, ofertar uma palavra só para que eu possa continuar a lutar (o quê? para quê?) sendo tu a única tábua de salvação da podridão da minha alma...
"Boa noite, eu vou com as aves".

Wednesday, January 19, 2005

22:23

o vazio a transparecer a tua voz de irremediável naufrágio
o caos a revelar-me o teu rosto de medusa cosmopolita
feitiço inquebrável que viaja por todas as cidades onde parto
com sonhos amachucados dentro da bagagem
ainda detenho a vã esperança de que um dia
se tornem realidade pelo teu sopro mágico transatlântico...

12:47

Querida Teresa:

Abri várias vezes a caixa de correio com a esperança de te ler, no fundo sei que não me vais escrever mas existe sempre aquela luzinha ligeira a cintilar no meio do nada que deixará de brilhar ao fim de uma semana. Aí tentarei arranjar um novo pretexto para te escrever, o eterno ciclo vicioso começa, a longa espera na esquina hipotética do coração lavrado em lama. Renasço a partir de cada gesto teu, ultimamente sob as tuas breves palavras por o diálogo ser impossível, por mil muros instransponíveis nos separar.
Gostava tanto de te rever, Teresa, contemplar as finas arestas suaves do teu rosto, morrer na doçura infinita das tuas mãos e fotografar para o álbum de memória as curvas perfeitas e divinas do teu corpo. Estremeço só de soletrar o teu nome, a grandeza do teu nome esmaga-me, és demasiada grande como dizia Carolino à Sofia em "Aparição".
Ninguém poderá alguma vez ombrear com a tua beleza, ninguém, jamais.

19 de Janeiro de 2005

Querida Teresa:

Liguei-te há sensivelmente três horas atrás, não sei o que me deu, peguei no telemóvel, cliquei no teu nome intocável e deixei o som soar na escuridão opaca do meu quarto até ouvir uma voz familiar, tão doce que me deixou imóvel, taciturna, embaraçada. Eras tu, há quanto tempo não te oiço, não sei de ti, quase te esqueci. Mentira, posso me esquecer que existo, das responsabilidades sociais, dos aniversários, dos nºs dos amigos, a data ou o dia da semana mas nunca de ti. Perguntaste-me logo: que se passa contigo? É perfeitamente normal essa questão, afinal de contas são 730 dias que nos separaram, foi o silêncio propositado de ambas as partes (teimo em achar que é mais da tua que a minha) que se tem prolongado até eu finalmente quebrá-lo por não conseguir conviver mais com a tua ausência. Perdoa-me se de alguma forma te incomodei (novamente), precisava urgentemente de te ouvir, talvez até de marcar a minha presença na tua vida para que não me riscasses de vez no livro da tua existência. Como vês, não mudei nada, continuo a ser tímida perante a figura ígnea e avassaladora que representas, balbuciei umas frases que mal me lembro mas as tuas hei-de guardá-las bem cá dentro. Disse-te que tinha insónias e por isso é que me lembrei de te ligar (desculpa esfarrapada, não é?) e respondeste-me ironicamente: ai é, assim vais ter ainda mais insónias! Pois é, Teresa, como tu me conheces, se calhar melhor que eu própria, às vezes tenho a sensação que prevês as minhas atitudes, os meus gestos, sabes o que corre nas minhas veias, no meu pensamento. És terrível como tudo o que é belo, eternamente.

Prometeste que me vais escrever um e-mail, a responder ao meu já há uma semana atrás, fico à espera... Apesar de no fundo do meu coração saber que não o farás. És uma mulher demasiada ocupada, há rios de gente que precisam do teu tempo somente para que os oiças e sentirem que são especiais nem que seja por breves instantes. Eu pertencia a esse grupo degradante de ovelha tresmalhada, a que não siga as regras convencionais de estar na sociedade, disse-te olhos nos olhos que gostava de ti. Foi um erro? É tarde demais para atar os laços que desatei com a traição à tua singela amizade, perdoa-me por te amar.

18 de Janeiro de 2005

Querida Teresa:

A partir de hoje este vai ser o nosso cantinho secreto onde poderei falar contigo abertamente, sem que tu saibas, sem que o mundo me oiça e me critique, pois ninguém compreende o que é verdadeiramente amar. Pode ser que um dia eu tenha a coragem suficiente para te pedir que entrasses neste meu mundo ilimitado, povoado por ilusões e memórias tuas que abraço constantemente para que a vida pudesse ter um sentido. Tu és o sentido da minha vida.